A importância da acessibilidade na construção civil
- Fernando Xavier
- 31 de mar. de 2021
- 3 min de leitura
Pensar em acessibilidade vai muito além de calcularmos inclinações de rampas, posicionarmos pisos táteis e colocarmos placas em braile. Tornar uma edificação acessível significa proporcionar as mesmas experiências para todos, tanto para aqueles que não possuem limitação locomotora/visual, como para os que portam tal condição.

Imagine a seguinte situação: você decide que irá abrir uma hamburgueria na sua cidade. Realizou toda a construção do local com um profissional responsável que seguiu estritamente todas as normas de acessibilidade que a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) traz para a sociedade. Após o término da obra, com seu estabelecimento a todo vapor, você se depara com a chegada de Lucas, um cadeirante, que, tomando conhecimento do seu delicioso hambúrguer, resolve ir até sua lanchonete; porém, logo na entrada, ele já encontra a primeira dificuldade. A porta de entrada, que possuem um limitador com o intuito de fechar automaticamente, se torna muito pesada e Lucas, como não possui o apoio das pernas, não consegue abrir a porta sozinho. Por sorte, um de seus prestativos garçons abre a porta e auxilia seu cliente.
Lucas, durante todo o tempo que passa na sua hamburgueria, nota inúmeros outros problemas. Suas mesas estão muito próximas umas das outras, são muito baixas, seu balcão é muito alto, impedindo que Lucas possa utilizá-lo, além de inúmeras outras situações que, parecendo simples ao olhar comum, tornam-se desgastantes para Lucas.

Essa história nos traz uma reflexão. Mesmo você contratando um profissional para comandar seu empreendimento que seguiu todas as normas vigentes, você notou as dificuldades que Lucas sofreu ao utilizar seu estabelecimento. Mas por que isso ocorreu?
Porque seguir as normas de olhos fechados, apenas olhando aspectos técnicos, não garantem a acessibilidade! Para isso, um bom engenheiro ou arquiteto precisa olhar de modo global para todos os pontos que podem fazer com que a experiência de uma pessoa deficiente seja limitada - como no caso de Lucas, que mesmo gostando do seu hambúrguer, não conseguiu aproveitar por inteiro a experiência de ir até sua hamburgueria. Daí o motivo pelo qual iniciei esse texto com a frase: "Tornar uma edificação acessível significa proporcionar as mesmas experiências para todos[...]".
Vale ressaltar que o exemplo dado sobre deficientes físicos, apenas de modo didático e ilustrativo, também é válido para os deficientes visuais.
Dê uma olhada em 3 pontos importantes para você prestar atenção e alertar seu engenheiro ou arquiteto caso isso esteja acontecendo.
1 - ATENTE-SE NA INCLINAÇÃO DA RAMPA DE ACESSO
Uma rampa muito inclinada traz inúmeros problemas para quem utiliza cadeira de rodas. Por mais que a vox populi pense que todo cadeirante possui braços fortes por aguentar se locomover por muito tempo e estar acostumado em realizar força, não é nada agradável ter que se exaurir para adentrar em um estabelecimento que deseja (além de ser um pensamento bem retrógrado)
2 - DIMENSIONAMENTO DOS MÓVEIS E COLOCAÇÃO DOS MÓVEIS
Como a cadeira de rodas ocupa muito espaço, colocar seu móveis muito próximos, para tentar aproveitar melhor o espaço, não soa como uma boa ideia. Além disso, coloque em seu estabelecimento alguns móveis que sejam adaptados para comportarem uma cadeira de rodas, como mesas maiores, cadeiras maiores e balcões mais baixos.
Pense também nos deficientes visuais, que muitas vezes, com um simples posicionamento de pisos táteis, conseguem se locomover tranquilamente, sem o auxílio de outra pessoa.
3 - BANHEIROS
Cada vez mais estabelecimentos estão se renovando e colocando banheiros adaptados para o uso por cadeirantes e cegos. Mas, infelizmente, muitos cometem um sério problema: colocam esses banheiro em áreas unissex, como, por exemplo, uma cabine de banheiro adaptada dentro de um vestiário masculino, impossibilitando uma acompanhante mulher de auxiliar um cadeirante homem a utilizar o banheiro. Por isso, é importantíssimo que o banheiro adaptado seja colocado em uma área unissex, possibilitando que acompanhantes do sexo oposto possam auxiliar na utilização do sanitário.
Com isso em mente, podemos evoluir ainda mais as resoluções de problemas de acessibilidade em nosso país. Vale dizer que, de modo algum, sou contra as normas impostas pela ABNT; creio que a existências delas auxilia e guia muitos profissionais para realizarem excelentes trabalhos, possibilitando acessibilidade total para quem necessita. O que precisamos, porém, é não utilizarmos as normas de forma cega, mas, usando as tecnicidades que ela traz, atreladas a uma interpretação pessoal que se coloca na posição do outro, realizarmos projetos e empreendimento que deem as mesmas experiências para todos
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